
Muitos artistas produziram suas melhores obras depois que manifestaram sua insanidade. Outros tantos, tiveram suas carreiras abruptamente interrompidas e acabaram confinados a manicômios, como feras ou como meros vegetais.
A loucura, através dos tempos, foi tratada de formas as mais diversas e, não raro, diametralmente opostas. Em algumas sociedades, o louco era tido como uma pessoa em contato direto e ininterrupto com os deuses e se tornava uma espécie de oráculo. Em outras, era considerado “endemoniado” e, não raro, era espancado até a morte, para que o demônio deixasse o seu corpo. Em muitos lugares o louco ainda é tratado como delinqüente, como “criminoso” (mesmo que jamais tenha agredido a quem quer que fosse) e submetido a toda a sorte de torturas e de vexames.
Por outro lado, gente séria, como Platão, por exemplo, chegou a dar a entender que toda criatividade se baseia, fundamentalmente, numa espécie de “loucura divina”. No século XIX, o psicólogo e filósofo norte-americano William James chegou a escrever o seguinte: “Quando um intelecto superior se une a um temperamento psicopático, criam-se as melhores condições para o surgimento daquele tipo de genialidade efetiva que entra para os livros de História”. Discordo.
Ulrich Kraft escreveu revelador e instigante ensaio a propósito intitulado “Sobre gênios e loucos”. No texto, apresenta uma lista de artistas célebres portadores de graves distúrbios psíquicos como os compositores clássicos Robert Schumann, Piotr Tchaikowski e Serguei Rachmaninoff; os pintores Vincent van Gogh e Paul Gauguin e os escritores Lord Byron e Liev Tolstoi. A essa lista, eu acrescentaria, por exemplo, os escritores Stephane Mallarmé, Friedrich Nietzsche, Johann Christian Friedrich Holderlin, Gerard de Nerval e Antonin Artaud, entre tantos outros.
Fico, no entanto, com a opinião equilibrada e entendida do professor e escritor Isaías Pessotti. O mestre declarou, a respeito, em entrevista publicada pela revista “Cult” em fevereiro de 1998: “Se as pessoas rotuladas como loucas foram grandes criadoras, trata-se de pessoas muito criativas que, por acidente, ficaram loucas. Ou se trata de pessoas que na situação acrítica da marginalização (como loucos) revelaram uma criatividade que a vida ‘normal’ impedia de se ver ou de se manifestar. Mas a loucura não é libertação do espírito. Muito ao contrário. É a escravidão do pensamento”.
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