
Passada a Virada Cultural e toda a polêmica que ela causou, para o bem e para mal, nos encontramos novamente defronte ao nosso bom e velho espaço urbano. O bom sujeito então acorda, sai de casa, e toma sua condução como de costume. O caminho até o ponto é sempre o mesmo, o mais perto.
Nessa opção prática há um grande porém: uma rua fedorenta onde um supermercado deixa restos de comida espalhados pelo chão em putrefação constante. É aquela maldita área de carga e descarga que os supermercados insistem em construir de frente à rua, ao invés de usar algum pedaço de seu enorme estacionamento. Nada como um bom suborno para algum maldito corruptível fiscal da prefeitura. Mas isso é uma outra (podre) história.
O caminho é podre, mas é mais curto. O ônibus é sempre lotado, e a jornada de trabalho estafante. E dias se seguem nesse maravilhoso ritmo ao qual chamamos de vida. Ê pobreza de espírito! Aquela mesma velhinha com bafinho de café referida na última coluna aparece de relance, e nos repete o mesmo coro cotidiano que nos ajuda aturar tudo isso. “É um dia atrás do outro… Veja só meu filho, e eu que já sou uma senhora…”
Paisagismo Urbano
O bom pessimista olha tudo isso e começa a blasfemar o governo, a prefeitura, o poder público, o FMI, os americanos, os iraquianos, os marginais, os mendigos, a ex-mulher, o ex-marido e tantos mais outros culpados, enfim.
A culpa é sempre do outro, e a melhoria é sempre algo exterior a ele.
São tantos culpados, que não nos atemos ao fato de que há um movimento igualmente marginal aos chamados “marginais”, que tenta, apesar de toda desgraça e falta de organização urbanística, descobrir uma beleza neste cotidiano comum.
Dos trajetos que percorri na cidade de São Paulo neste último mês, dediquei meu olhar aos desenhos, grafites e pinturas que colorem nossos muros, postes e edificações. Seja no caminho do trabalho, ou num passeio de final de semana, ou simplesmente vagando pelas ruas, estas imagens criam verdadeiras narrativas fragmentadas deste desejo coletivo de mudar esta dura realidade do paulistano.
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